quarta-feira, 8 de junho de 2016

Capitães da Areia - Jorge Amado

Por: Allyne Pires

Lembro-me da primeira vez que li esse livro em 2008. E, assim como há oito anos, eu continuo achando o livro tão atual quanto no ano em que foi escrito, 1937.

Na época a obra foi proibida e a polícia do Estado Novo apreendeu e queimou inúmeros exemplares em praça pública. É porque algo incomodou e de certa forma é real.

Reler Capitães da Areia só confirmou meu sentimento e ratificou como um dos meus livros favoritos. Ler com uma mentalidade mais madura foi excelente.


Palavra por palavra vai deixando a entender que aqueles que dormem sob a lua em um trapiche velho não são crianças. Sabem da malícia da vida muito mais que muitos adultos.

Mas não podemos nos deixar enganar. A criança dentro deles ainda existe e é despertada quando veem o carrossel, com suas luzes e sua música antiga. Se encantam e esquecem de onde estão e de onde vieram, o próprio padre José Pedro enxerga, neste momento, ainda mais evidente o que ele defende: são apenas crianças. Crianças que fazem do furto sua sobrevivência e descobertas do amor de mulheres (derrubando-as no areal) para saciar o “amor” que lhes falta.

O Sem-Pernas botou o motor para trabalhar. E eles esqueceram que eram iguais às demais crianças, esqueceram que não tinham lar, nem pai, nem mãe, que viviam de furto como homens, que eram temidos na cidade como ladrões. [...] Esqueceram de tudo e foram iguais a todas as crianças, cavalgando os ginetes do carrossel, girando com as luzes. As estrelas brilhavam, brilhava alua cheia. Mas, mais que tudo, brilhavam na noite da Bahia as luzes azuis, verdes, amarelas, roxas, vermelhas do Grande Carrossel Japonês.

Além da parte do carrossel, outras duas me emocionam muito (apesar do livro todo ser muito emocionante). Uma delas é quando Sem-Pernas, como já aconteceu outras vezes, entra em uma casa para ficar alguns dias e depois passar as coordenadas para o roubo. Diferente das demais, nessa casa ele consegue sentir o amor e carinho de uma mãe, que Dona Ester transmite.

Uma terceira parte é quando


a Dora – mãe, irmã, amiga, noiva e esposa – falece. A descrição de Jorge Amado para esta cena, o que todos estão pensando, traz a tona lágrimas nos olhos e um pequeno descuido as faz rolarem pelo rosto.

Os dias que Pedro Bala passa no reformatório são revoltantes e não duvido que seja algo assim que ocorra em muitos por aí.

O destino de cada integrante do trapiche – Pedro Bala, Sem-Pernas, Professor, Pirulito, Gato e Volta Seca – são ao mesmo tempo reconfortante para alguns, preocupantes para outros e bem triste para um, que preferiu a morte a ser capturado pelos policiais novamente.

Algo que notei é que a descrição pessoal da história de vida e sentimental foge um pouco dos Capitães da Areia para focar em dois personagens: padre José Pedro e Dona Ester. Acredito que essa explicação maior da vida desses dois personagens aparece mais ampla devido o valor sentimental envolvido por todos os meninos ou apenas para um deles.

Vale a pena a leitura e releitura.

Se na leitura de José Saramago os parágrafos enormes são algo que me incomodam... Em Jorge Amado nem percebo que eles estão lá.

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