quarta-feira, 4 de maio de 2016

Claro Enigma – Carlos Drummond De Andrade

Por: Allyne Pires

"A mesa" tornou nostálgica minha leitura.
“Claro Enigma”, de Carlos Drummond de Andrade, foi publicado pela primeira vez em 1951. Durante alguns anos, fez parte do livro “Reunião” e em 1969 voltou como um volume independente.

Com ritmo do primeiro ao último poema, um livro de poesias de Drummond não poderia ser diferente.


O poeta traz temas sobre o amor, família, experiência de vida e até mesmo o fazer poético. O poeta mineiro relembra, de forma nostálgica, a vida em Itabira.

Por ser da literatura brasileira contemporânea tem uma variedade de tendências sobre a forma em que escreve, uma construção que traz neste compilado é o soneto, que deixou de ser usado no Modernismo.

Particularmente, gostei muito de dezoito poemas desta obra. Um deles (Sonho de um sonho), achei que tem a essência do nome e de como surgiu o blog. Outro, “A mesa” me fez lembrar da minha família, quando primos de primeiro, segundo, quinto grau se uniam para um aniversário, festa de dia das mães ou apenas um encontro casual.

Sonho de um sonho

Sonhei que estava sonhando
e que no meu sonho havia
outro sonho esculpido.
Os três sonhos sobrepostos
dir-se-iam apenas elos
de uma infindável cadeia
de mitos organizados
em derredor de um pobre eu.
Eu que, mal de mim! sonhava.

[...]

Sonhei que meu sonho vinha
com a realidade mesma.
Sonhei que o sonho se forma
não do que desejaríamos
ou de quanto silenciamos
em meio a ervas crescidas,
mas do que vigia e fulge
em cada ardente palavra
proferida sem malícia,
aberta como uma flor
se entreabre: radiosamente.

[...] (1.1-9, 3.1-11)

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