terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Como sobreviver ao período de desemprego?

Aquela sexta-feira do dia 11 de agosto de 2017 ficou na história, na minha pelo menos. Fico pensando em como alguns dias ficam em nossa memória. Algo que de alguma forma insiste em ser lembrado. Um casamento, o nascimento de um filho, a morte do seu cachorro, uma demissão não esperada. A data que inicia esse texto foi o início do período de desemprego pelo qual passei.
 
Eu não esperava ser demitida, duvido que muitos esperam passar por isso. Ainda mais depois de 11 dias de seu registro no emprego novo. Sim, isso de fato aconteceu. No meu caso, fiquei ainda mais surpresa porque o cargo que eu estava, consegui por meio de concurso público.
 
Sem entrar muito nos detalhes dos quais acredito que incentivaram minha demissão sem justa causa, fui chamada na sala do presidente do Conselho às 11h. Saí daquela sala 30 minutos depois sem acreditar no que li, porque nem se dar ao trabalho de falar a pessoa na minha frente se permitiu. O máximo que escutei foi: leia o papel e assine.
 
Como foi minha primeira demissão, não sabia quais atitudes tomar. Depois que li o papel dizendo que minha demissão foi porque não sei usar vírgulas, palavras e que meu texto não se adequou ao padrão deles, só pensava em uma coisa: não chore na frente deles. Assinei o papel. Hoje sei que não sou obrigada a assinar nada que eu não concorde, mesmo que um “superior” o diga.
 
A única coisa que consegui questionar antes de assinar aquele “papel” foi: mas ele (presidente do Conselho) não falou nada dos meus textos quando apresentei, ontem mesmo elogiou, como estou sendo demitida sem nenhum aviso? O máximo que consegui de resposta foi um olhar torto e “é o que está escrito”. Não, não era o que estava escrito. Assinei, levantei e desci para pegar minhas coisas.
“Não chora na frente deles, não chora na frente deles…” - esse pensamento ecoava a cada respiração que eu dava. A mulher que me acompanhou até o armário perguntou se eu tinha mais alguma coisa na minha mesa ou na sala em que fui proibida de subir no dia anterior. “Não”. Curto, grosso e seco. Por um lado, principal, para não derrubar a lágrima que persistia em rolar, e por outro pela raiva que sentia.
 
Ao pisar na rua, peguei meu celular com as mãos trêmulas e liguei para o meu pai. Já soluçando de chorar no primeiro toque. Quando ele atendeu eu não sabia o que dizer. “Imagina a decepção que ele vai ficar quando eu contar a ele? Onde está aquela menina inteligente, como irá se orgulhar de mim?”. Contei. E como um baque naquele pensamento, meu pai foi contra tudo o que minha mente nocauteada imaginou.
 
Após desligar, liguei para meu marido - na época noivo. Como contar que eu tinha acabado de perder o emprego, concursado, quando tínhamos que pagar as parcelas do casamento e do apartamento que tínhamos acabado de comprar? Eu só sabia pedir desculpas. Ele insistia que eu não devia nada a ele, que não era minha culpa.
 
Como tornar aquilo realidade? Cada palavra daquele documento me fez acreditar que eu era uma péssima escritora e até pessoa. Que eu soube, até então, enganar muito bem as pessoas. E, por isso, por eu ser uma “fracassada”, que eu não chegaria mais a lugar algum.
 
Aquilo me deixou sem chão, tudo o que queria - trabalhar na minha área, concursada - tinha chegado ao fim em menos de um mês. Mesmo que lá no fundo algo me dizia não ser minha culpa, devido aos fatores que eu tinha descoberto dois dias antes - depois dessas descobertas, bloquearam senhas e minha sala -, o pensamento de “fracassei” era muito maior.
 
Ao chegar na estação de metrô para minha casa, meu pai já estava lá. Abracei e chorei. Ele olhou para mim e falou para irmos para casa, trocar a roupa social que comprei exatamente para aquele trabalho. Depois que almoçamos ele foi comigo até o Parque Ibirapuera, um dos piores dias da minha vida tem uma das melhores tarde.
 
Ele não queria que eu pensasse em mais nada além das árvores, dos pássaros e dos Pokémon que aparecia.
 
Devo abrir um parêntese aqui e dizer que uma das coisas que mais amo é trabalhar. Quando eu ficava de férias e não tinha nada para fazer, eu me sentia depressiva.
 
Cheguei em casa e se não fosse pelos meus pais insistindo para que eu só pensasse em procurar um emprego na segunda-feira, juro que teria passado cada segundo mandando currículo. As seis vezes que até então eu tinha trocado de emprego, todas tinham sido por pedido meu, por busca de algo melhor para mim. Ser demitida é um saco!
 
Mesmo achando que não era mais capaz de me vender para algum recrutador, comecei a minha saga de enviar currículo. Esse período de desemprego durou 9 meses, uma gestação. Foram meses de alto e baixos. Toda a fé que eu dizia ter, parecia que tinha ido embora. “Como Deus permite que isso aconteça comigo?”.
 
Ele permitiu, e ainda permitirá que muitas outras coisas aconteça. Hoje, depois de um ano e quatro meses daquele 11 de agosto, vejo quanta coisa boa aprendi durante aquela “gravidez”. Entendo o quanto foi importante eu ter ficado nove meses em casa, cuidando da reforma do apartamento por exemplo.
 
Minha mãe sempre dizia que eu só conseguiria um emprego após meu casamento. Eu recusava a aceitar isso, precisava do dinheiro.
 
Como pude ver o agir de Deus em cada momento, até o mês em que consegui outro emprego não faltou uma conta para pagar. Não faltaram pessoas ao meu lado, demonstrando fisicamente o amor dEle por mim.
 
Faltou muita credibilidade da minha parte, muita autoconfiança foi embora, e meu orgulho foi junto. Na época, e ainda hoje, poucas pessoas sabem da história. A diferença de um ano para cá é que hoje conto tudo isso consciente de que não fui demitida porque eu não era (sou) competente. Aliás, eu sabia até demais.
 
Foi bom eu ter sido mandada embora de um lugar que o presidente tinha várias ações trabalhistas, assédio moral e até sexual. Foi excelente ter tido um tempo para acompanhar a obra do apartamento e os detalhes do casamento. Mas foi muito melhor a reforma que fiz em mim. Como eu cresci, e isso ninguém me tira.
 
Durante o período de desemprego tentei ao máximo ser forte, mostrar ser forte. Remodelei meu jeito de pensar, de agir.
 
Lembro de outro dia, durante o desemprego, que eu tinha uma entrevista, das várias que já tinha feito. Acordei, tomei banho e chorei, chorei todas as lágrimas que eu vinha guardando até aquele momento (foi no começo de fevereiro). Eu me permiti chorar de verdade tudo o que precisava. Essa é minha tática. Chore muito, mas depois seca o rosto, levanta a cabeça e vá para a luta.
 
A minha luta aquele dia foi meu marketing pessoal, na entrevista. A pessoa que me entrevistou sentiu que estava acontecendo algo e falou o que deveria dizer. “Não chora na frente dela, não chora na frente dela”. Na ocasião, eu não contei o real motivo do porquê pedi demissão do emprego que estava em julho. Saí daquela entrevista pensando em cada palavra que aquela mulher desconhecida havia me falado.
 
“Com certeza eu não passei”.
 
Um mês depois a mesma mulher me liga e pede para que eu retorne para conversar com outras duas pessoas, para que me conheçam. “Duvido que retornem ao menos para dizer que não passei”.
 
Mais um mês depois e há uma semana do meu casamento, o dono dessa empresa me liga. Perguntou se eu ainda tinha interesse na vaga, pois eles tinham interesse em mim. A resposta foi que sim, quase um CLARO, mas também contei que tinha uma viagem marcada por conta do casamento. “Tem algum problema eu começar daqui 15 dias?”
 
A verdade, é que não teve problema. Voltei da lua-de-mel no domingo e na segunda comecei a trabalhar. Mães sempre tem razão.
 
Agora estou em um processo de redescobrir, de empoderamento. E, por que não, confiança em mim. Se eu não sei usar vírgulas, palavras, como passei em um concurso? Como que um texto meu para outro concurso ficou em segundo lugar?
 
Como que um dos meus textos é o melhor rankeado na pesquisa do Google?

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