sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Infinita jornalista

Por: Gabriel Bonafé

Aos 17 anos, Allyne Pires deixava o escotismo de lado para dedicar-se ao cursinho da Poli. Era 2009 quando abdicou o Grupo Escoteiro Corrente, no qual atingiu o nível máximo da Tropa Escoteira, a Lis de Ouro, em cinco anos de atividade. Para a vida profissional, nada de descontração. A ideia era estudar jornalismo.

Antes de escolher a profissão da imprensa, Allyne sonhava em ser médica — ora inspirada por desejos inexplicáveis da infância, ora inspirada por um seriado que assistia. A escolha não agradava aos pais, que advertiam a filha sobre a rotina árdua. Jornalismo não é alternativa à um cotidiano corrido (pelo contrário), mas os textos elogiados da Allyne durante o ensino fundamental foram circunstanciais para os primeiros passos do interesse na área. Ela conta que sempre teve apoio familiar, apesar dos receios pelas aventureiras escolhas. Educada para fazer o melhor de si, desfruta da meritocracia.

O sacrifício do hobby não foi o único. Allyne não conseguiu passar no vestibular da USP. Em 2010 o plano foi tentar uma bolsa pelo Programa Universidade Para Todos (ProUni), por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O cursinho no Objetivo ajudou Allyne a garantir o sucesso da estratégia. Em 2011, ingressou na turma matutina de jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul. Para isso, Allyne teve que enfrentar o que ela classifica como o pior ano de sua vida, mas com um adendo: “pior no sentido de rotina, em questões de amadurecimento foi o melhor”, relembra.

Entre o segundo e o terceiro ano de vida acadêmica, Allyne foi representante da turma e desenvolveu sua iniciação científica entre o primeiro e segundo ano — a única da turma a desenvolver até então. No trabalho, analisou nove matérias do jornal Folha de S. Paulo que falavam sobre desrespeito às leis de trânsito. Estudou Kant e Foucault para argumentar a respeito de cidadania, ética e moral. No âmbito da linguagem utilizada pela Folha, utilizou as autoras Koch e Elias e o autor Bakhtin.

No projeto experimental dos seus colegas de classe, a Agência Hipertexto — portal online com conteúdo jornalístico laboratorial —, a estudante sempre teve interesse em fazer parte da coordenação e moderação, mas não sabia como se envolver. Por sorte, foi convidada por uma das idealizadoras do projeto, Flávia Serralvo. O cargo é seu até hoje.

Allyne fez seu primeiro estágio na assessoria de imprensa do Procon-SP, conquistado pela prova da Fundap. Mais tarde conseguiu uma vaga concursada no Ministério Público do Trabalho, também como estagiária da assessoria de imprensa. Sonhadora, Allyne tem aspiros variáveis. Já chegou a querer apenas prestígio no mercado jornalístico. Hoje gostaria de trabalhar em uma redação simples, como aquelas de jornais de bairro. Também quer ser cronista da Folha. O texto opinativo em questão é seu favorito, cujo qual ganha palavras com um simples observar no ônibus. Com 22 anos, Allyne mostra que sonho é pragmático quando combinado com empenho.