terça-feira, 20 de agosto de 2013

Uma dose não terminada - Parte 2*

Por: Allyne Pires

*Ressalto que para o entendimento deste conto não é necessário ter lido a Parte 1*

- Ah! Nem acredito. Me belisca.
- Para, cara! Ahahaha. É verdade, chegou sua hora. Nossa, você vai ver como sua vida vai mudar. Para melhor, viu. Ter alguém que se ama em casa e poder dormir junto toda noite... Mesmo nos dias em que
brigam.
- Veja só. Quem diria. Há cinco anos eu estava tentando convencê-lo que se casar não é algo ruim e, hoje, me diz que tudo é maravilha.
- Verdade! Só tenho a agradecer. Se não fosse por você eu não teria me casado e quem sabe nem estaria com o significado da felicidade e esperança para alguém.
- E espero que essa criaturinha linda não fique com vergonha na hora.
- Quem diria. Minha princesinha com uma mega responsabilidade nas mãos apenas com três anos.
- Ai, pai coruja. Hehehehe. O que me deixa mais feliz é que antes você iria querer me encontrar em um bar, com um copo de whisky nas mãos.
- As pessoas mudam, mas estamos aqui para falar de você e não de mim. Minha vez foi há cinco e três anos.
- Mas no meu caso estou certo das minhas atitudes, sem “medinho”.
- Não era “medo”.
- Eu sei, estou brincando.
- Agora, falando sério. Realmente está preparado? Sei lá, você não tem nenhuma dúvida?
- Sinceramente? Estou tremendo por dentro. Eu sei que é ela que quero para a vida toda, mas... Nossa! Nunca imaginei que estaria assim. Parece que começo a sentir o peso que a vida tem.
- Não querendo te assustar, mas... Espera ter um filho, cara. Entretanto, esse assunto é para outra janta.
- Quem sabe daqui cinco anos.
- Hum! Jurava de pé junto que depois daquela conversa no bar só voltaria a conversar sério em dez anos. Em menos de três você já estava me dando outra lição.
- Lição?! É nada, hoje percebo que não sei é de nada, isso sim. Uma coisa é você ler e ver de perto ou de longe situações. Outra, totalmente diferente, é vivê-las.
- É uma ansiedade incomum, né?
- Ô!
- Esse carpaccio tá uma delícia, fala sério! Espero que quando a gente for ter outra conversa séria eles ainda estejam funcionando.
- Hehehehe, verdade. A comida aqui é sensacional.
- Com licença. Vão querer outra bebida?
- Ah! Eu aceito. Um suco de laranja com quatro cubos de gelo e sem açúcar.
- Também quero. Um guaraná com gelo, por favor.
- Ok! Trago em instantes.
- O tempo passa e você deixou seu whisky, mas os exatos quatro cubos de gelo não podem faltar.
- É a regra. Ahahaha. Nada fica suficientemente gelado com três, e cinco é demais.
- O filme que conheço tem outro nome.
- Hum?!
- Doze é demais. Ahá.
- Tuts! “A mesma praça, o mesmo banco...”. Está felizinho hoje, hein!
- Aqui, o suco e o guaraná. Algo mais?
- Não, por enquanto, obrigado!
- Depois vou querer uma sobremesa e pode deixar que pago a sua. Para comemorar o grande dia. Para onde vocês vão mesmo?
- Curitiba.
- Hum! Da’ora.
- É o sonho dela conhecer a cidade. Só juntamos o útil ao agradável.
- Até o suco daqui é maravilhoso, fala sério.
- Vou ficar de olho em você... Daqui a pouco está pedindo a mão do chef.
- Dispenso, mas se ele quiser ir cozinhar em casa pelo menos três vezes por semana não iria reclamar.
- Pagando bem, que mal tem.
- Garçom!
- Vai pedir para chamar o chef? Hehehehe. Acho que ele não aceitaria por dez reais por mês, só uma dica.
- Não engraçadinho! Pode trazer um petit gateau, por favor. E você quer o quê?
- Acho que também vou querer um.
- Dois então.
- Sim.
- E o Douglas?
- Que que tem ele?
- Confirmou a presença?
- Nada, aquele lá é um sumido da vida. Não foi no seu, acha que vai no meu?
- Sei lá. Nunca se sabe.
- Não te falei. Sabe aquele meu tio Antônio, o altão?
- Hum, acho que sei.
- Ele deu uma máquina de lavar fantástica.
- Que bom! Só faltava isso para vocês né?
- Acho que era a única coisa que faltava mesmo. Ah! Aquele micro-ondas é muito bom viu.
- Já usaram? Como assim?
- A gente precisou ficar lá o dia todo no sábado passado esperando, mais um dia, o armário chegar.
- Chegou pelo menos? Sacanagem, faz um mês quase que vocês estão nessa ladainha.
- Pois é, mas pelo menos chegou. Meu pai já montou, fomos na quarta a noite guardar as roupas.
- Aqui, dois petits gateaus.
- Obrigado!
- E o seu “filho” vai ficar com quem?
- Com meus pais... mesmo. Vamos comprar outro mês que vem, menor.
- Melhor para o apartamento. Não vai engordar, hein! Quero ver entrar no terno amanhã. Vou rir muito.
- O que se come com vontade e sem culpa não engorda.
- Quem dera.
- Está ficando tarde. Garçom.
- Quer um café?
- Sim, por favor! Vai querer um?
- Não. Vou tomar o resto do meu suco.
- Então, pode trazer uma dose de café e já trás a conta também, por favor.
- Sim.
- O atendimento aqui é muito bom.
- Muito! Mesmo lotado a comida, tudo, chega rápido.
- Pode deixar que levo você para casa, quero ver minha daminha.
- O café e a conta.
- Traz a maquininha, por favor. É Visa.
- O meu é Master.
- Pode deixar que eu pago sua sobremesa. Não vai terminar o café?
- Peguei mania de deixar um restinho.
- Cada louco com sua loucura...
- É aquele ali ó. Bom! Vamos pra casa.
- Valeu pela carona, cara!
- Que isso, não a de quê. Tchau princesa. Até amanhã, gente.
- Té manhã. Fala tchau pro tio.
- Tau tau.

*Se quiser ler ou reler a Parte 1 veja em: Uma dose não terminada - Parte 1
* Leia a continuação do conto em: Uma dose não terminada - Parte 3

Nenhum comentário: