Por: Allyne Pires
Você olhava da janela do seu quarto todos os dias e
depois de meses é que fui perceber, por causa do pingente que usava e refletia na parede do meu quarto. Não vi seu rosto.
Mesmo sem saber quem era a dona do meu arco-íris eu tocava todos os dias e dedicava cada nota à minha espectadora. Sem coragem para atravessar a rua e tocar no número 14.
Exatas 30 apresentações depois a vi. Chegava abraçada com um rapaz. Logo percebi que era ele quem dera a você o pingente dono do meu arco-íris e era ele também quem ocupava seus pensamentos quando se apoiava no peitoril para ouvir minhas músicas. Com ele ficou lá aquele dia, esperava que eu tocasse. Entretanto, fechei a porta da sacada e desenhei.
Desenhava agora não só o vulto com meu arco-íris, mas o rosto da bela donzela e seu sorriso. Sabia que este não era para mim, mas era o sol que fazia brilhar os meus olhos. Orava para que eles fizessem arco-íris em sua parede mesmo com minha porta fechada.
Fiquei um bom tempo sem abrir a sacada. Abri e vi você apoiada e chorava. Comecei a tocar de olhos fechados, imaginava seu sorriso com meu arco-íris. Outra música me faz parar, o som da campainha. Era você.
Nossa, meu coração não bateu por alguns segundos.
Desde então éramos inseparáveis feitos como irmãos, para você.
Um ano se passou e finalmente roubei um beijo seu. Grande erro que cometi. Saiu correndo e sumiu.
Aos 16 anos sentia algo no meu peito que nunca sentira e despedaçava meu coração.
Tentava te matar dentro de mim antes que me matasse de vez. Descobria algum tempo depois que cada veneno que me vendiam era apenas um pressuposto para ganharem dinheiro, você ainda vivia.
Apareceu, fisicamente, no meu caminho algumas dezenas de vezes. Mas era sempre o mesmo diálogo rápido.
Outro som atrapalha minha música e meus pensamentos em você. A campainha. Minha filha, que ficara com a minha casa do outro lado da rua.
- Pai, a música está linda. Desculpe atrapalhar, mas chegou um pacote para o senhor. Deve ser alguém que não sabe que mudou de casa desde que a mãe morreu. Já vou indo, a Lú ficou sozinha em casa.
Quase não acredito no que vejo, no remetente o seu nome e acho que minha fila não reparou, mas o endereço é da sua antiga casa. A mesma que a minha há dez anos. O selo e carimbo são de um lugar que nunca ouvi falar.
Dentro da caixa o pingente e um papel com palavras como facas:
O veneno se tornou real e a matou, mas em mim ainda permanece. Depois de 50 anos ainda toco aquela música do saxofone que quer lhe dizer o que não sei falar com palavras: Eu am.
Um comentário:
Gostei muito Lady lyne! Realmente isso acontece muito. Uma pergunta a você que é mulher: Como a gente faz pra não ser só “amigo”? hehehe. O fato de ser um velhinho narrando também é muito interessante, afinal algumas coisas duram pra sempre. Gostei também da forma que as imagens foram inseridas no texto ficou bacana. Há algumas coisas que mudaria ( Como a repetição do saxofone no primeiro parágrafo, ou colocar um virgula depois de Arco-íris no terceiro), mas quem sou pra julgar alguma coisa. Muito bom Lady, você escreve muito bem.
Vinicius Buzzetti ( O cara do quadrinhos)
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